Mrcio Cavalca Medeiros
Calma. No se assuste. O acontecimento em Santa Maria com a morte de mais de 230 pessoas, e a tendncia que os nmeros aumentem nos prximos dias, na minha opinio, no um acidente to pouco uma fatalidade. Nos dias de hoje em que o conhecimento, a cultura e os comportamentos so considerados mais evoludos e esto sempre melhorando na forma de crescimento e desenvolvimento humanos, as falhas cometidas na boate, no meu modo de ver, eram esperadas e tudo aconteceria numa questo de dias. T certo que as propores foram exageradas, mas aconteceriam cedo ou tarde.
No vejo diferena entre os acontecimentos nos EUA em que mais de um maluco armado mataram dezenas de pessoas. Isto considerado pela mdia como massacre. Massacre quando existe carnificina, matana, esmagamento. Uma vez sem o cumprimento de tantas regras de segurana, o que aconteceu em Santa Maria no pode ser classificado como acidente, pois, no foi casual, e sim esperado quando se mistura fogo e material inflamvel sem os equipamentos de segurana. Esta estria chama a ateno, em razo da quantidade de mortes, pois, no a primeira vez que algum morre por causa da insegurana em boates.
Sempre comparo que um acidente de avio chama mais ateno da sociedade do que os acidentes de carro. Quando cai um avio, e so poucas as vezes que isso acontece, centenas de pessoas morrem no mesmo momento causando comoo, enquanto que milhares de pessoas morrem em acidentes de trnsito diariamente, tornando-se normal, casual, rotineiro. No devemos nos acostumar com isso. Morte morte em qualquer circunstncia e deve promover uma reflexo profunda nas pessoas, com o fim de uma vida, seja ela qual for. preciso haver sentido e significado na vida. Quando um ser humano morre preciso rever conceitos, e isso que tenho feito com este fato, lamentvel, em Santa Maria.
Como posso preservar as pessoas que amo e que esto ao meu redor e a mim mesmo, num caso deste? Quando eu for num restaurante, num evento grandioso ou at mesmo em casas de show, passarei a prestar ateno neste sentido. De como feito o ambiente em que estarei ou um de meus familiares estar? O local onde vamos seguro no meu ponto de vista? Passo a desconfiar do Poder Pblico de uma maneira geral, pois, quando vejo um determinado Corpo de Bombeiros inseguro quanto a informao do alvar neste caso de Santa Maria, uma determinada Prefeitura empurrando o caso, ou at os donos, engenheiros e funcionrios da boate com informaes desencontradas, chego a concluso de que no posso confiar, portanto, quem deve tomar a deciso sou eu. Pelo menos em mim.
Poderei ser antiptico, mas da mesma forma que tomo os meus cuidados quando viajo de carro (depois de sofrer um grave acidente), passarei a tomar mais cuidado para onde vou. Pode ser que eu deixe de freqentar alguns lugares, mas procurarei fazer isso de um modo que eu no seja inconveniente, mas o exemplo de Santa Maria me leva a crer que possvel evitar de ir, ou de estar, em locais que no inspiram confiana. Passarei a ser seletivo e muito mais observador, pois, como diz um amigo meu do Corpo de Bombeiros, no existe meia segurana. Ou tem ou no tem.
Passarei isso aos meus filhos, esposa e familiares, mas admito que ser algo complicado, mas acredito que se cada um de ns no fizer a parte que nos cabe, esses gananciosos continuaro agindo e colocando as pessoas em risco, e matando nmeros incontveis de vida. Precisamos criar um conceito sobre as conseqncias. Um nibus, um carro, um trem, um prdio, uma casa, ou at mesmo uma pessoa suspeita, algo que me ameace... qualquer fato que venha a me proporcionar medo, sinal de que o perigo existe. Sentir medo bom. Sinal de que o bom senso est ligado. No covardia, e sim prudncia. a limitao da capacidade. Isso timo, e se passarmos a respeitar este dom divino, seremos mais seguros, e certamente viveremos mais e melhor, correndo menos riscos calculveis.
Que as vidas dessas pessoas do massacre de Santa Maria no tenham sido em vo. Vamos pensar, refletir, conversar com outras pessoas sobre o que aconteceu, mas no procurando culpados (esse o trabalho da Justia), e sim buscando alternativas de como prever o que aconteceu e evitar. Eu j comecei e algumas pessoas j perceberam isso. No tem como medir o sofrimento das famlias que perderam pessoas queridas neste acontecimento, mas existe a chance de pararmos de ver a morte como algo banal. Nenhuma morte deve ser vista como normal e sim como uma colaborao daquela pessoa para que a humanidade seja mais tica com a prpria espcie, pois, no deixa de ser uma clemncia e compaixo com o outro, morrer e deixar uma lio.
Mrcio Cavalca Medeiros radialista, jornalista e empresrio. E-mail: marcio@medeiros.jor.br. BLOG www.marcio-medeiros.blospot.com.br |
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